"Se um dia o diabo quiser faremos o crime perfeito..."
Wednesday, 24 December 2008
Sunday, 30 November 2008
se
Algures não sei bem onde alguém acabou de ser morto a tiro neste mesmo instante, o mesmo em que não sei quantos putos mosca respiram pela ultima vez. Mas nada disso importa, são só estatística.
E nada de sentir demais hoje, que mais dias virão –se nenhum meteorito nos cair em cima- logo depois de acordar -se-.
Saturday, 29 November 2008
#
Cá está ela!
Tenho a loucura exactamente na cabeça.
Meu coração estoirou como uma bomba de pataco,
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima...
Graças a Deus que estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo quanto fui se me atou aos pés,
Como a serapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada!
Graças a Deus, porque, como na bebedeira,
Isto é uma solução.
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago!
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos!
Poesia transcendental, já a fiz também!
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram!
A organização de poemas relativos à vastidão de cada assunto resolvido em vários —
Também não é novidade.
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o.
Com esforço, mas era para bom fim.
Ao menos era para um fim.
E assim como sou não tenho nem fim nem vida...
Friday, 21 November 2008
Sopro
Depois as escadas voltam a chamar. Sobem-se os degraus um a um esquecendo que tudo tem um fim - e a escada não será diferente -. Último degrau, próxima queda, ciclo infinito, grande roda ou qualquer outro nome. A vida, talvez.
[ao lado, outras escadas, outras quedas, outros corpos. nas pontas do mundo as cordas da rede cortadas por quem a não quer esticada]
Thursday, 20 November 2008
Coiso...
Canções, escadas e moinhos de vento movidos a água. Seres pequeninos, gigantes, algodão aos molhos e tangerinas. Escadas, casas, ruas, a quase chuva e as pedras da calçada debaixo dos pés. Comboios, estacões, paragens, viagens. Árvores e grades e relógios partidos contra o céu. E palavras. Porque sim, eis tudo!
Sunday, 16 November 2008
Saturday, 15 November 2008
Sinos
O cangalheiro faz a conta ao fim do dia e deus queira que amanhã haja mais trabalho.
Just
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise
Black bird singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
All your life
you were only waiting for this moment to be free
Blackbird fly, Blackbird fly
Into the light of the dark black night.
Blackbird fly, Blackbird fly
Into the light of the dark black night.
Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise,oh
You were only waiting for this moment to arise, oh
You were only waiting for this moment to arise
Friday, 14 November 2008
Absurdo:
s. m.,
adj.,
Sunday, 9 November 2008
Chuvas
Procuro um abrigo mas não há.
Friday, 7 November 2008
Cores
Dizem que acabaram as canções e todos os dias nos mostram o filme do dia pelas oito da noite que agora empura o dia por volta das cinco, dizem que isto está mau para que no outro dia de manhã as ovelhinhas o repitam a uma só voz "Isto está mau, isto está mau...", se calhar o grande irmão não passa de um reles pastor. "as ovelhas gostam de companhia, vão-se sempre juntando umas ás outras.". O rebanho engrossa "isto está mau, isto está mau" e enquanto fala não ouve nem vê. Para quê? Às oito saberão de tudo, de tudo o que quiserem que saibam. "isto está mau, isto está mau", e nos gabinetes cheios de mofo assinam-se resmas de papeis para tornar isto melhor.
Mais um decreto e não se pode faltar às aulas porque isso não pode ser considerado um direito. Não se falta e não há sermão nem responsabilidade e depois se houvesse agora também já não se chumba e as bicicletas não são prémios mas direitos. Criam-se assasinos de português, incapazes de somar e dividir. Passeiam-se com os afamados "Magalhães" debaixo do braço sem saber sequer quem deu o nome áquela máquina azul. Sem saber que houve tempos em que homens se faziam ao mar para matar e morrer. Sem saber que houve tempos em que nos diziamos donos de meio mundo. E agora? Esperamos ansiosamente que do outro lado do oceano haja alguém capaz de nos tornar a vida melhor. Ironias que também não hão-de perceber. Aumenta o rebanho...
Fazem ouvidos moucos e sorriem, as ovelhas negras. Sorriem e riem e rebolam no meio do caminho sem medo de serem pisadas. Aprenderam a levantar-se depressa e fugir dos pés ansiosos. Também se tornaram maiores que as outras, pelo menos maiores aos olhos, mesmo que só a cor pareça distingui-las. Dizem que isto está bom, que gostam de chuva quando ela cai e de sol quando ele nasce. Acreditam que o impossível é só uma palavra inventada que não faz qualquer sentido, parar é morrer e as tangerinas têm um lugar especial no mundo a par com os girassóis.
Dizem-se felizes e alimentam-se de algodão-doce.
Wednesday, 5 November 2008
Change!
Teria a sua graça, afinal Ele já vai para todo o lado, pelo que a diplomacia não lhe mete medo. E é azul. E tem a sua graça. Até um nome engraçado...
Magalhães. Voto nele!
knfkzdfgkowr
Tuesday, 4 November 2008
Sunday, 2 November 2008
Terra
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira, que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce, que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete, Salazar estava no poder, nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra, tenho amigos que emigraram, nada de ressentimentos
Um dia bebi vinagre, nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga
ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional
Que fossemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca
Jorge Sousa Braga
Dançando à Volta
O herói é uma pessoa que foge prá frente
Em maior ou menor grau
Todos nós fugimos ao
Medo que faz o cobarde
Medo que faz o valente"
Friday, 31 October 2008
Thursday, 30 October 2008
Cinza
Ao lado, as caras cinzentas, falam do cinzentismo da vida e tudo parece ter sido pintado por um inconsciente qualquer. Talvez um daltónico a querer vingança.
Depois fecho os olhos e vejo as mil e uma cores dos peixes que teimam em saltar da àgua para os barcos que não há ao som de um qualquer louco que grita "PEIXE, PEIXE, PEIXE!", embalado por marés de campainhas. Saltam os peixes e chovem sapos. O cinzento deixa de fazer sentido com os olhos fechados, e ao voltar a abri-los a cidade é toda luzes.
As núvens foram empurradas pelo sol, o rasto laranja pintou o céu e o pescador terá um grande jantar ao chegar a casa.
Porque sim!
Doce… que o rasto do sol não se quer amargo…”
Sunday, 26 October 2008
Vácuo
As caras e os corpos lá estão, a vaguear de um lado para outro. Esquerda, direita, frente, trás. Sem rumo, rumo a qualquer lado... Falta Gente no meio disto tudo. Falta a chuva que parece ter tirado férias e até o sorriso da lua se mostra falso e torto.
Indiferente a tudo, o rio-casa vai correndo ao lado. Ao lado, como as casas onde se não está, os abrigozinhos de cobertor já roto, ao canto, à espera que o corpo aceite o abraço para que da janela se solte o grito.
Tic-tac e agora o dia tem mais uma hora para se ser. Os corpos cansados arrastam-se até casa ou morrem na lama. As palavras que escorrem das bocas ébrias soam todas a falso, e o "para sempre" parece ser um dia como outro qualquer. Até ao nascer do sol...
Saturday, 18 October 2008
Roda
E bebo as palavras e quase que me engasgo
São belas perco-me nelas sem me fartar
Sem quase nunca me fartar
Podiamos ficar nisto o resto da noite
Em lugar nenhum"
Wednesday, 15 October 2008
Números
- E se morrer?
- Compra-se outro, são todos iguais...
Sunday, 12 October 2008
Talvez
António Lobo Antunes, "Os Cus de Judas"
Saturday, 11 October 2008
"Mas é sempre a mesma história..."
O primeiro assombro... E depois pouco resta dele. Farta-se o corpo e volta tudo ao que era dantes.
Sabe melhor assim, enquanto o corpo não se farta...
Thursday, 9 October 2008
(som áspero e seco)
Imóveis, tanto tempo, tanto.
Pim! Estalar de dedos, rajada de vento, empurrão mágico. Caiu a primeira.
Que surja o desenho...
Saturday, 4 October 2008
"Sete"
Ainda deve haver tempo para pensar um bocadinho e fazer as pazes, nem que só por uns meros segundos, com aquele que tanto invejas e não suportas, meros segundos e todos são amigos e justos e sensatos e morais.
Buraco aberto, terra para cima, não sem antes o senhor padre deixar as palavras mágicas no ar. Duas lágrimas no chão, óculos escuros nos olhos e se esperares pela noite talvez vejas uma alma esverdeada a subir aos céus. Mas não esperas, que no café a cerveja é fresca e a televisão lá está com o grande relvado acabado de regar. A cerveja é fresca e os copos muitos. Entretanto secaram os olhos e todos voltaram a ser os mesmos de sempre, inimigos, injustos, insensatos e imorais. O senhor padre troca as palavras mágicas por três "ais" na cama da sobrinha e dia um do mês que vem lá irão todos pôr as velas vermelhas a arder.
Sentir a horas marcadas deve ser uma coisa estranha.
Wednesday, 1 October 2008
smilejacking
Haverá sempre quem não olhe só para o chão e se atreva a segurar a porta pesada de um qualquer centro comercial. Mesmo que sem dentes na boca...
Wednesday, 24 September 2008
Gotas
O Eládio Clímaco anima a viagem de comboio rumo ao pôr do sol na praia quase deserta e as coisas simples são tão mais.
Surge então a lua-bolacha-trincada enquanto a espuma branca e amarga depressa se troca por algodão doce cor-de-rosa. O preto ganha mil e uma cores e por mais que se pinte uma casa velha, nunca ela voltará a ser nova.
"É bom ser gente feliz" e o amanhã não existe. Os ovos estrelados são bons, mas nem sempre a frigideira ajuda. Mexidos também não são maus, desde que sem queijo.
Saturday, 20 September 2008
Palavras...
Curiosamente parece que é o único sítio que temos para passar a longa noite que nos espera.
E é aí que eu saio para apanhar a frequência. Como que a comer um ponto e a cagar um verso. No prisma, a encaixar, provavelmente no de outros feito um filósofo de merda.
Mas a vida é isso mesmo, um monte de gente a fazer de conta que se entende e ninguém sabe dizer o que viveu.
Por isso nos pedem que caminhemos alegres para o precipício sem questionar, porque estaremos sempre longe. Mas longe rapidamente fica perto e perto rapidamente passa por nós. Eu não quero mandar-te para baixo, mas sei que me entendes, tu também tens medo de morrer, toda a gente tem. Só que normalmente inventamos montes de problemas para nos convencermos que estamos ocupados a resolver uma situação importante quando não tem importância nenhuma.
Entretanto o tapete rola e nós irritamo-nos com a inevitabilidade, e nos nossos sonhos dizemos:
- Torna-me imortal! Torna-me imortal! Eu não vou aguentar deixar de existir!
E é aí que eu entro para sair da frequência, seduzir-te com os meus sonhos, tu não vês como empreendo? E como eu mais um milhão de sonhadores leva com ele muitos braços dos outros, acéfalos, na lotaria dos ideais, descrentes, beijando o número do bilhete.
Mas quero dizer-te que a viagem é tua, não quero empurrar-te à força para a rua.
Se eu falhar vou passar de deus a carrasco, embalsamado e metido dentro de um frasco, para te lembrares da mentira, mas a verdade é que ganhamos sempre."
Manel Cruz, "Ainda pode descer"
Monday, 15 September 2008
Sunday, 14 September 2008
Prioridades
E depois os desportistas do futuro, com os seus milhões, irão transformar este país num num lugar melhor. Porque tudo tem um preço. Daqui a quinze aninhos seremos o país da europa com mais bibliotecas e melhores escolas, com menos pobres e melhores hospitais, o verdadeiro paraíso à beira mar plantado.
Entretanto é só esperar que se formem os craques da bola. Já agora, se não fosse pedir muito, era interessante que no meio de isto tudo aparece um bom defesa esquerdo...
Efémero
Thursday, 11 September 2008
7!
Wednesday, 10 September 2008
Os heróis estão todos mortos...
Sonho uma janela e uma loja do outro lado da rua que sonhada é um rio de àguas turvas. Um toldo de riscas azuis e um cigarro à porta. Segura-o uma mão queimada pelo tempo ou talvez pelo fumo, pouco importa. A outra acena. Aí vou. Voo por cima da rua rio e sento-me no sofá com a estranha personagem.
Uma aranha sobe para o tecto, há mosca fresca na teia.
Muda de voz e de cara, muda de corpo também, a rua à frente, de rio passa a selva e de selva a deserto. O sofá transforma-se em banco e pouco depois só resta um pouco de chão...
Ouço com atenção as palavras que vai soltando no ar. Fala de estrelas e luas, de um tal de fio norte, diz que há pessoas a desaparecer dentro de cabines telefónicas e que um dia houve quem fizesse explodir uma baleia encalhada na costa com dinamite (desastre enorme...).
Pergunta-me o que vejo à frente. Descrevo-lhe uma casa grande. Bate-me com as palavras. Uma janela! À frente está uma janela, eis tudo. Aceno com a cabeça e digo-lhe adeus. Agradeço e salto.
Acordo uma e outra vez. Sonho dentro do sonho qual matrioska. Entre um acordar e outro toca no rádio uma música quase esquecida, "shards of glass, splinters like rain..." é tudo o que ouço. Volto a acordar e agora já não é um sonho. Pelo menos o sol brilha e há pessoas a discutir por causa de um pedaço de papel...
A genial falta de sentido
Era um redondo vocábulo
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar
Pelos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio
Convocando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincavam e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa
Wednesday, 3 September 2008
Letras
A quem parte para se perder
Não se dá boleia
A quem precisa de ir a pé"
relativo
E ao olhar para o céu vejo centenas de estrelas e imagino milhões de planetas à volta delas. Milhões de pessoas em cada planeta. Tão longe, tão pequenos. Tão reais...
Há perguntas para as quais a resposta não existe
Monday, 1 September 2008
sono
O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono! ...
Sunday, 31 August 2008
Quase domingo
Achei um fragmento de espelho partido em cima de um muro. Peguei-lhe por curiosidade. Apesar de pequeno dava ainda para ver alguma coisa reflectida. Digo a mim mesmo que devia usar aqueles que tenho em casa mais vezes. Esqueço-me sempre...
Moedinhas para a máquina e no fim do mês são só duzentos euros em cigarros. Golo do benfica e esta noite já não se dorme tão mal.
Na televisão oferecem dinheiro às três da manhã. Para quê tanto assalto?
Thursday, 28 August 2008
Chaga:
s. f.,
ferida aberta;
úlcera;
incisão na casca das árvores;
fig.,
desgraça;
mal;
coisa que faz pena;
fam.,
pessoa importuna, desajeitada;
Bot.,
(no pl. ) planta trepadeira tropeolácea ou a sua flor.
Wednesday, 27 August 2008
Lost in translation
Tudo faz mais sentido assim. Ou quase.
Sunday, 24 August 2008
Planeta estrela
Passam aviões com mil e uma pessoas divididas entre latas. Três luzinhas por par de asas. Tão pequeninas lá em cima... E se por acaso um dia as luzinhas se apagarem enquanto lhes sigo o rasto?
É assim que acontece quando as estrelas caem (as estrelas não caem mas assim soa melhor, há até quem não acredite em meteoritos...). Um pontinho de luz aparece do nada, cai, cai, cai (ou flutua, ou vagueia, sei lá...) e pronto. Pedes um desejo e agora é so esperar que aconteça (tenta pedir que o sol apareça de manhã para ver se resulta mesmo...).
E o que são os anos para a pedra que deixou de o ser? Isto do tempo é tão relativo...
Entretanto as luzes continuam acesas lá em cima.
De manhã o sol dá-te um pouco de claridade e a história do desejo é mesmo verdadeira (para a próxima pede o fim da fome em Lisboa...). Acordas, vês a luz e vais à tua vida. Algures noutro lado do mundo mais três luzinhas chegam ao chão (explodirão agora?) e ali, ao pé de tua casa, há quem afunde a cabeça num caixote do lixo à procura do pequeno almoço (pão da noite anterior e doce de morango com validade de anteontem. Nada mau. Ontem só havia bananas.).
Três portas abertas. Três luzes apagadas. Três lanços de escadas. Mais um dia...
Pode ser que hoje seja diferente. Pode ser que a lua se pinte de roxo e as estrelas apareçam verdes. Pode ser que o mar cuspa os peixes e volte a nascer mais um salvador (tantos Jesus na América do Sul...). E se todas as máscaras fossem queimadas no meio da praça?
Pode ser que sim...
Ou então resta-nos ser daltónicos à força e sonhadores de olhos abertos...
Friday, 22 August 2008
Thursday, 21 August 2008
Tuesday, 19 August 2008
Sinapse
O resto é rir enquanto se espreita pela fresta da porta mal fechada. Rir, partir e voltar quando menos se espera só para um abraço tonto e sem sentido aos olhos que servem só para olhar e não para ver.
Saltam as palavras com vida própria e a Força ganha outro sentido. Mais um par de sorrisos. Adeus? Não pode haver... Estamos sempre lá, sempre cá, sentados no muro de lugar que não existe. Lugar nosso, lugar nenhum, com vista para o que se quer ver.
Monday, 18 August 2008
Linha
Depois do primeiro assombro
Logo o corpo fica farto"
Friday, 15 August 2008
Haver
Sem plano e sem vida. Sem hora nem rumo. Só a linha e o relógio de estação a marcar as horas no tic-tac do costume. O tic-tac que varia o ritmo consoante a pressa de quem corre e a serenidade de quem aguarda sem certeza nem medo.
É tão possível morrer debaixo de um relógio de estação. Deve ser pesado. Estás ali à espera e de repente caem-te as todas as horas em cima...
Mosquitos, árvores e chuva. Algodão doce também...
Mais uma rajada de vento e agora impera o avesso. O lugar nascido na rua sem gente. Porta pequena e a casa de sempre... A casa noutra cidade. Fotócopia surreal... Não muda sequer a mobilia, nem o caixote do lixo com o caroço de maçã apodrecido pelo esquecimento.
Dá para sorrir. Na rua dançam as bandeiras. É hora de partir outra vez.
Thursday, 14 August 2008
Porque nunca se pode ter tudo
Desta vez faltou o último adeus.
Ou então não faltou e só não se ouviu...
Monday, 11 August 2008
vidro
diga lá, o senhor que sabe tudo, desde a mais bela táctica para ganhar no futebol, até à melhor maneira de depenar estorninhos malhados, passando ainda pelo conhecimento de mecânica aliado a um pouco de física e, já agora previsão meteorológica só com um pouquinho de cuspo no dedo...
diga lá senhor sabão o que é um padrão e um telefone. explique por favor às criancinhas porque é que o mar é azul e o céu salgado... é ao contrário? pouco importa, o senhor consegue na mesma...
conte lá onde se compra o arroz mais barato e qual é o melhor sitio para sair à noite. fale, fale sem parar. não se faça modesto...
pum, pum, pum! fogo de artificio verbal... e os planos da vida do outro. desenhe já no papelinho amarelado, faça-lhe o mapa, ensine-lhe o caminho.
aproveite senhor juiz, alguém errou. julgue, julgue já. ainda há cordas na loja e não falta quem saiba fazer um belo nó de forca. julgue e condene, que matar não custa. não tenha medo, não é preciso matar o corpo, só o resto...
e depois meu senhor, dono da razão do saber e da verdade, quando o longo dia chegar ao fim, tente arranjar um espelho. pode ser que então o sono tarde.
Sunday, 10 August 2008
Sumo de Limão
Resta uma certeza simples...
Sol
Thursday, 7 August 2008
Friday, 1 August 2008
(...)
And if there is no room upon the hill
And if your head explodes with dark forbodings too
I'll see you on the dark side of the moon
Pink Floyd, "Brain Damage"
Monday, 28 July 2008
Vozes
Depois pensei nas palavras e nos metros e nas pedras e nas varandas e nas viagens e nos comboios e nas pistas e nos carros e nos silêncios e nas horas perdidas a fazer nada.
Olhei-os de lado e ri-me contigo.
Sunday, 27 July 2008
Nadas...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de conseqüências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...
Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive).
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em todo o novo...
Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, álacre, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...
Monday, 21 July 2008
Jardim
Enterrada na terra está uma caixa. Folhas e mais folhas. Brancas e lápis coloridos. Pendurado na árvore, um arco-íris pintado a mil cores num dia em que choveu miudinho.
Olhando de baixo, a árvore desenha-se núvem e dos ramos pende um pequeno trapézio que baloiça ao sabor do vento. Lá, no sitio onde não há tempo e o ar não sufoca nunca.
"Não vês que é de nós o jardim..."
Saturday, 19 July 2008
Sunday, 13 July 2008
Cancro
"Ah e tal, tens dois meses de vida...".
Claro que a morte é certa -sempre o foi para todos-, mas nunca o quiseste ver, nunca quiseste saber... E então, é agora, durante dois meses que vais aprender a cheirar uma flor? É agora que vais saber o que vale um "Bom dia!" e um sorriso? E a ver nascer o sol pela janela fosca do hospital mal cheiroso e quente.
Quando podias, não cheiraste, nem disseste, nem viste. Não o quiseste sequer, quanto mais tentar. Anos e anos que tiveste para... E agora em dois meses queres isso tudo. Agora que tens o sangue podre e te começam a cair os dentes arrancados por rios de baba.
Gostavas agora de dizer umas palavrinhas a alguém mas também não podes. Afinal, esse alguém não existe. Ou se existe, só existe para ti... Como lhe podes tu pedir uma visita? Podias telefonar, mas como poderias falar sem que te ouçam pelas paredes orelhudas? Podias também escrever, mas bem sabes que te iriam abrir a carta. Desesperas...
Ficas então calado com as palavras em ti. Belo castigo... Nem tudo é mau, vendo bem, só vai durar dois meses.
Dois meses passaram, e do outro lado, enquanto saceias mais um bichinho, há quem abra a caixa do correio todos os dias... "Bem que podia dizer alguma coisa..."
Saturday, 12 July 2008
Friday, 11 July 2008
Há quem seja até mais que...
Sigo enquanto sinto. Soubessem eles o que perdem... Gente? Não creio!
Wednesday, 9 July 2008
Monday, 7 July 2008
#
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.
Álvaro de Campos
Saturday, 5 July 2008
Arrasto
Um passo ao lado da ovelha morta no meio da estrada também pode mudar a história. Tripas de fora, bombas dentro. É a vida, ou a morte... Afinal que mal pode fazer uma ovelha morta? E o pedaço de ferro redondo?
E as nódoas? Não são mais que manchas nas roupas.
("Cuidado, cuidado!!! Estão vidros no chão..."). Também estavam palavras no ar...
Thursday, 3 July 2008
4+4=8
Núvem
Céu
Rio
Mar
Algodão
Mel
Sorriso
Rasto
Fundo
Salta
Cai
Foge
Roda
Gira
Volta
Vento
Varanda
Flores
Luz e frio, vozes e caras, passos lentos que se arrastam vagarosos pelo chão e a erosão dos passos lentos que se arrastam pelo chão a deixar rasto no trilho que se forma pelos mosaicos já meio amarelados por tantas vidas que os calcaram...
Os olhos não vêm, olham. O coração não sente, bate. Os corpos não vão, seguem. Os ouvidos não escutam, ouvem.
tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tit-tac, tic-tac, tic-tac, .......................................
Flight lesson #1: Have you ever seen a chicken flying? Chickens have wings...
E é tudo tão mais simples quando uma simples frase se apodera da mente... "Basta querer.". E acabam as distâncias e as agendas e as horas e o resto. Porque sim! E os comboios são nossos escravos mesmo que a viagem se faça em vão... Mas nunca é em vão. Resta sempre qualquer coisa, quanto mais não seja uma dúzia de olhos gritando a uma só voz a palavra que não mais abandonará o ser.
8X10=80
Saturday, 28 June 2008
(...)
Pecados mil
Cem prazeres vãos
Tenho bolhas nos dedos
Tenho calos nas mãos é ele que me chama
Se o bem corre perigo
Ou eu acabo com este
Ou este acaba comigo
Não
Não
Não posso ser eu
Não
Não
Não me deixam ser eu
Mas então
Quem é que eu vou ser?
Quero uma última vontade antes de nascer!...
Quero ser pouco
Ou quero ser rouco
Ou um pedaço de merda
Quer ser um pouco de gente
Eu imploro
Quero ser igual…
Depois das lágrimas
Do arrependimento
Surge a raiva que a não leve o vento!
Mas eu sei cantar
Da minha maneira
E pelo que eu creio
Canto a noite inteira
Mas eu sou bom
Eu perdoo tudo
Por vontade deles
Eu seria mudo
Quero ser muito
Quero ser tudo
Estar só
É tudo o que eu quero
Agora…
Manel Cruz, "Eu"
Thursday, 26 June 2008
Rádio
Wednesday, 25 June 2008
Tuesday, 24 June 2008
Morfina
E sobra tempo no branco. Paredes brancas, batas brancas, ideias em branco.
E se...?
Saturday, 21 June 2008
Ouvi dizer
Ouvi dizer que lá longe as paredes são de vidro, como muitos dos tectos cá em baixo, e nos dias em que a luz do sol brilha forte demais, os vidros transformam-se em espelhos, espelhos daqueles que não há cá em baixo, espelhos onde se reflectem as almas abertas por um abraço bem quente.
Ouvi dizer que, depois, nos dias em que chove muidinho se fazem grandes festas, festas quase tão grandes como aquelas dos dias em que chove bem forte, mas mesmo assim pequenas quando comparadas às outras, as que acontecem sempre que cai do céu mais uma estrela em mil pedacinhos de luz incandescente.
Ouvi dizer que as ruas vão todas dar a uma grande praça e que a praça fica de frente para o mar e que, lá longe, o mundo tem um girar diferente. Então o sol nasce no mesmo sitio onde se pôe. E todas as semanas há um dia em que o sol se limita a não aparecer, como aqui acontece com a lua. Diz-se por lá que às vezes é preciso sentir falta, para dar valor...
Gostava de lá ir um destes dias. Hoje as portas já fecharam. Ouvi também dizer que o mundo acaba amanhã...
Wednesday, 18 June 2008
Já deu
E já há lua e estrelas e céu. Ainda há um par de dias caía a chuva e as folhas com ela. Só algumas que as outras lá ficaram penduradas qual guarda chuva gigante...
Na rotunda larga os carros continuam a passar como se nada fosse, passavam há uns anos também, enquanto lá longe em Srebrenica as valas iam ficando um pouco mais cheias de corpos sem gente dentro.
Acabou de nascer uma violeta plantada numa terrina...
Óbvio?
- E se a queda segura de um gato for uma constante de andares de número par?
O certo é que um dia o Cubano, farto dos gatos, alterou o seu campo de estudos para os cães. Deixou cair um cãozinho de patas para o ar, do quarto andar para o pátio, e o rafeiro não se virou e morreu.
- Conclusão, cão não é gato.
O animal fez um barulho seco e almofadado, parou de ganir. O medo do cãozinho encheu o ar, nos dois segundos e meio da queda."
Rui Cardoso Martins, "E se eu gostasse muito de morrer"
Tuesday, 17 June 2008
Da cicatriz no braço direito
"Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degradados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Monday, 16 June 2008
d'O Campo
Grito agora contra as paredes, contra o vazio. Ecos distantes chegam como resposta. Palavras distorcidas pelo tempo. Tempo-espaço. "Nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma", e o pó é só o resto de tudo. Muda a forma, resta a matéria. E no vazio restará também qualquer coisa... Ecos, mais uma vez, ecos de palavras distantes.
Meio metro pode ser longe demais, meio metro entre um copo de água e um corpo de gesso. Meio metro, distância infinita... E depois a dúzia e meia de quilómetros que se transformam em nada. Querer. Porque no mundo é tudo relativo... E do lado de fora isso vê-se muito bem.
Tive em tempos medo do papão e do lobo mau, do sebastião que comia tudo e de ser tostado num forno de lenha. Mas o sebastião não era canibal, o lobo mau gostava mais de chatear ovelhas branquinhas, o papão sentia-se confortável debaixo da cama e no forno apenas cabiam meia dúzia de pães. Sentido? Sim. Fazia.
Sunday, 15 June 2008
Tal fosse um copo grande embora sem o fundo
Sorrir,
Não é pêra doce!"
Friday, 13 June 2008
Sonho?
- Como sempre, sob as linhas que teço...
- Não era bem isso...
- Feliz, então, acho.
- É bom saber, Dona Aranha, é bom saber...
- Tenho feito umas coisas engraçadas ultimamente...
- Pois, já notei.
- Mas sabes, no fundo são só fiozinhos de seda. Limito-me a esticar fios de seda.
- São mais que fios, mais que cordas...
- :)
- "Dona Aranha nada disto faz sentido.".
- Claro que faz, embora nem sempre seja fácil encontrá-lo, percebê-lo, sei lá...
- Mas...
- ...um dia, um dia.
Facto
Monday, 9 June 2008
Frio
Sinto falta dos sorrisos de algodão e dos raios laranja a fugir do olhar. Mas os dias mudaram, o tempo mudou e o mundo também. Bah!!!
Friday, 6 June 2008
Do lado de fora...
Muito embora ele tenha a esse respeito uma opinião bem particular
É que enquanto um criminoso tem uma certa tendência natural para ser vitimado
Jeremias nunca encontrou razões para se culpar
Porque nunca foi a ambição, nem a vingança, que o levou a desprezar a lei
E jamais lhe passou pela cabeça tentar alterar a Constituição
Como um poeta ele desarranja o pesadelo para lá dos limites legais
Foragido por amor ao que é belo e por vocação"
Thursday, 5 June 2008
Jardim
Há quem não ponha açúcar no café.
E está-se tão bem num outro qualquer lado que não o de dentro. Sei lá eu porquê. Porque sim...
Mais que o sol, tão mais, tão mais, tão mais...
Wednesday, 4 June 2008
Com pequenas pintas nas asas...
se eu agarro ela perde a cor
ela não é dos meus dedos
é dos meus medos
e faço-me passar por uma flor
tento imaginar o que ela diz
à espera de aprender
à face da rua existe a lua
mas não é tua
à margem da estrada não há nada
mas já te agrada
tu és o teu mundo
tu és o teu fundo
tu és o teu poço
és o teu pior almoço
és a pulga na balança
és a mãe dessa criança
és o mal
és o bem
és o dia que não vem
agora pára de fazer sentido
não vês que assim estás a pisar fora da estrada
vê se agora paras de fazer sentido de uma vez
não vês que nada te dirá mais do que nos diz nada
vê que o meu coração ainda salta
quer e julga ser capaz
não o faça por meus medos
faça nos dedos
e eu fico para ver o que ele faz
sem imaginar o que eu não fiz
à espera de viver
à face da chama existe a fama
mas não te ama
à margem do nada não há estrada
já não te agrada
tu és o teu preço
és a tua glória
tu és o teu medo
és a parte má da história
vê que o sol ainda brilha
ainda tem por onde arder
não é mau
não é bom
são razões para viver
se eu largar eu vou sentir a tua falta
tu és tu sempre que tu és
és mesmo tu quando pensas que és outra coisa
e tu pensas que não
mas tu és mesmo bom a ser sempre quem és
daí o teu motivo ser inapagável
daí o teu desejo ser incontornável
o prazer é tão maleável
daí o seu valor ser inestimável
a razão de existir de um poeta é
Reflexo
Enfim... Haverá quem se importe e diga, por exemplo, que as bananas estão verdes. E depois há quem goste, por exemplo, de bananas verdes.
E há quem goste de instantes sem sentido...
Monday, 2 June 2008
Porque...
Bolinhas de sabão que enquanto duram são lindas de ver. Rumo ao céu... E depois há dias em que o sabão acaba e não ha bolinhas para contemplar, dias em que não vale a pena soprar a àgua, dias...
Enfim...
Palavras. Reparo agora que a palavra "palavras" até que nem é feia. "Terrina" também não soa mal. Uma palavra como prenda. Porque sim, só porque sim!
Sunday, 1 June 2008
Friday, 30 May 2008
Fio
Fio ponte com gente nas pontas... Ou talvez não. Fio ponte com gente mais que gente nas pontas.
Wednesday, 28 May 2008
Cerejas
E do meio do nada aparecem palavras que não deixam esquecer o que sempre se soube, a normalidade é sempre um bocado relativa e sabe bem acordar com as unhas pintadas de vermelho e revirar os olhos e ir só porque sim.
E as pessoas humanas pouco percebem dos pequenos nadas. Porque as pessoas humanas sabem muito pouco. Nem descobriram ainda que se pode ver o sol nascer...
Wednesday, 21 May 2008
Bom dia
Acordei agora, mas não sei onde estou... De qualquer modo também não tenho a certeza de querer voltar...
Monday, 19 May 2008
Saturday, 17 May 2008
Campos
E é nessas alturas em que queria ter-te ao lado para te acordar com um bom dia e um beijo. É nessas alturas em que sinto coisas confusas que deixo de saber sentir.
E do resto que falem os entendidos...
Thursday, 15 May 2008
Luas
Vi ontem um monte de ossos, carne e tendões. Vi ontem tudo isso feito pé. Um pé lego. Peça a peça, da maior à mais pequena, tudo junto e bem ligado.
E vi gente a tentar sair da fila, mas sem primeiro aprender a caminhar fora dela. Cairam e eu ri só porque sim.
Sei sim que o pé jamais será pé, mesmo com todas as peças bem montadas, sei que nem todos serão capazes de dar o salto e ficar de pé e sei que daqui a duas luas, numa noite bem amarela, poderei voltar a contá-las do zero.
Wednesday, 14 May 2008
.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem a meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente, reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
Tuesday, 13 May 2008
Changes
Era simples demais quando quase chovia. Umas gotinhas de água aqui e ali, a refrescar o ser. Meia dúzia de núvens acinzentadas a tapar o azul que logo depois haveria de voltar a brilhar.
Mas depois as núvens deixaram de ser só cinzentas e passaram a ser negras. Em vez de quase chover, choveu mesmo. Tanto, tanto... Ficaram inundadas as casas e as ruas deixaram de se ver, assim como o azul azul que dantes feria os olhos.
Mudou o tempo sem avisar. E eu que me recuso a andar de guarda chuva...
Wednesday, 7 May 2008
Rodas
A distância como um fio de elástico que estica e encolhe à força da vontade e do querer. Porque descobri um dia que não há longe nem distância, que os metros são o que quisermos fazer deles e nada vale a pena se não se sentir um bocadinho.
O resto da história é simples. Porque a tangerina é bem pequena... E agora voltei a encontrar quem julgava ter perdido há uns pares de meses. Eu!
Sunday, 20 April 2008
Bancos
E mesmo que só a fazer de conta, os bancos nunca estão vazios. Os do carro, os da alma, os da esquina e os que guardam o dinheiro.
Sunday, 13 April 2008
Ecos
(Se calhar era mentira, se calhar é verdade. Já não conto ter tempo para descobrir. Nem sempre se pode saber tudo...)
Wednesday, 9 April 2008
Voltas
Tudo isto seria nada, se a aldeia não fosse uma aldeia especial. Para além de todas as casas serem côr-de-rosa -como todas as nossas estradas sao pretas-, havia apenas uma lei a cumprir. Todos os habitantes, sem excepção, teriam de sorrir. Ora aquilo era muito estranho para quem por lá passava de caminho para um qualquer outro lado.
Certo dia, durante um funeral, um forasteiro ao presenciar a cena, perguntou à viúva mais sorridente que tinha conhecido na vida a razão de tanta alegria. "Mas nós estamos tristes! Não percebo a pergunta...", respondeu Margarida, ostentando o mais belo sorriso que herdara dos seus pais. Na verdade, atrás dos sorrisos estendidos de orelha a orelha, escondiam-se dores e amarguras, desgostos e frustrações...
Herminio, o forasteiro, deixou-se ficar. Margarida, ao voltar para a sua casa côr-de-rosa encontrou-o sentado num qualquer banco de jardim. Não sorria. Então o sorriso?", perguntou, "Não conhece a lei? Aqui, todos temos de sorrir. Sempre, sempre, sempre...". Herminio soltou um "não me apetece". Margarida pegou-lhe na mão e levou-o para casa. Ai finalmente deu descanso às bochechas e suspirou "a mim também não...".
Perderam-se nas horas por entre palavras e chávenas de chá. Amanheceu e Herminio partiu para voltar poucos dias depois. Trazia na mão um saco e uma lata. Margarida sorriu, de verdade e por dentro, ao ver tal figura abrir o portão. Não havia tempo a perder. Pegaram na lata e pintaram a casa de preto perante o espanto geral da multidão sorridente que se ia juntando no meio da rua. "A partir de hoje", disse Margarida, "hei-de sorrir só quando me apetecer, a partir de hoje a minha casa será negra. Negra. Porque sim...".
Nem Margarida sabia o que tinha feito. Aos poucos, as casas foram mudando de côr na aldeia e os sorrisos desaparecendo das caras. Dois meses depois não restava uma única casa côr-de-rosa e os raros viajantes e por lá passavam estranhavam ver tanta sisudez nos rostos.
Herminio e Margarida, agora que se tinham encontrado, viviam felizes na casa negra ao fundo da rua. No canto em que havia somente terra plantaram um jardim onde se deitavam ao sol e riam horas sem fim.
Numa manhã de chuva, Herminio partiu novamente para de novo voltar poucos dias depois. Desta vez trazia só uma lata na mão. Ficou feliz, Margarida, quando o viu chegar, tão longa tinha sido a espera. Pintaram a casa de côr-de-rosa num dia de sol enquanto se riam de todos os outros que nunca souberam sorrir de verdade...
Tuesday, 8 April 2008
Um pouco quase muito
E passo na rua e olho de lado quem de lado me olha.
E sinto.
E gosto quando a chuva quase molha, em dias quase perfeitos. Quase... Faltou qualquer coisa na mão estendida.
Wednesday, 2 April 2008
Núvens
Quando caia a noite e o azul do céu lentamente se ia transformando noutra côr, talvez mil e uma, pensavam em descer e logo desenhavam o minucioso plano de aterragem. O cálculo ao segundo, ao milimetro...
Depois, quando chegava a hora certa, e tudo apontava para que descesssem, deixavam-se ficar a ver as soturnas pessoas que lentamente se arrastavam um pouco mais abaixo deles. Tão pequenas lá em baixo.
Comiam bocadinhos pequenos de núvem mágica enquanto desciam só porque sim. Fora de horas e longe do lugar onde o tinham pensado fazer. Ao chegar ao chão olhavam um para o outro e diziam baixinho ao ouvido: "Havemos de voltar!". E voltavam, e voltaram até em dias quase sem núvens. Mas aquelas eram mais que nuvens, como eles eram mais que gente.
Monday, 24 March 2008
Gotas
Depressa se constroi a barragem que devagar encheu. Falta sempre qualquer coisa... Faltou espaço desta vez. Não transborda, rebenta. Pedras, cimento e peixes que por uns segundos sabem ser também pássaros sem asas nem penas.
Secam as nuvens e volta a brilhar o sol. Brilhará depois a lua de noite e a terra dará mais uma volta em torno de si mesma.
Talvez amanhã volte a chover. Talvez um dia os peixes voltem a voar.
Tuesday, 18 March 2008
Nau
De volta. Encontro corpos espalhados pelos cantos da casa sem perceber bem porquê. Novo acordar, novo ir. É forte o vento desta vez, forte demais. Novamente dormem e vou. Vou e volto. E ao voltar penso que se calhar tudo não passou de um sonho. Talvez tenha estado também a dormir. Talvez. Talvez o sol não tenha nascido três vezes no mesmo dia. Talvez nunca tenha sentido os degraus debaixo dos pés. Apesar de tudo tenho a certeza que sorri.
Monday, 3 March 2008
Falta sempre qualquer coisa...
Mas o impossível não existe, isso é certo e sabido, e nada me garante que, por um qualquer acaso, não haja mais que um monte de pixeis amarelados à tua frente.
Monday, 25 February 2008
Passo
Lembro também os dias em que as verdades absolutas eram nada mais que mentiras aos olhos dos outros, lembro tudo isso com o sorriso que se pode ter na cara tantos anos depois... Assim como recordo alguns dias, poucos, em que me apareciam certezas pela frente. Ir, ir, ir...
Falava contra o eco cruel das paredes pintadas de fresco. Ganhava forma o magro deus egipcio. O bem, o mal e a balança! Houve depois um dia em que tudo foi falso. Houve tempos para lá do dia em que tudo foi falso em que existir doía, doía demais. E doía querer e não ter, doía não poder ir. Mas a dor aguenta-se e faz-nos sentir. Transformei o não ter em não querer e o não poder ir em falta de vontade. No fundo, lá bem no fundo, continuavam a latejar os sonhos. Ir, ir, ir...
Tantas vezes a maré subiu e desceu, tantas vezes a vi depois de umas horas passadas entre carris e apostas. Tantos dias o sol se pôs. O passo. Mais uma vez o passo. Tentaram então acompanhá-lo. E acreditei que afinal fosse possível, acreditei que não poderia haver uma só medida criada propositadamente para mim. Acreditei até ao dia em que vi as cordas que prendiam as pernas. Era falso o andamento. O passo era só meu. De nada valia a vontade de o acompanhar por parte de outro alguém.
Segui sozinho o caminho, o meu caminho, por vezes sozinho demais, encontrei então à beira da estrada um pequeno monstro. Demos as mãos. Ouvi vezes sem conta as palavras que me mostrou. Ainda hoje as trago comigo.
Tempo, tempo, tempo... Passaram os dias e as gentes por mim, poucos guardei, poucos quis guardar. Eu e o monstro. À medida que os dias passavam perguntava a mim mesmo o quão justa seria a balança do tal senhor. Um deus por inteiro. Não era um semideus como se acham tantas das criaturas por este mundo fora, logo deveria ter alguma justiça em si. Morte, morte, morte, morte... Ir, ir, ir... O meu passo, eu e o monstro.
Subiram e desceram novamente mil e uma marés. Girou o mundo, cairam do frágil trapézio mihões de almas e mais uma vez pensei ser possível. Quatro pernas a caminhar lado a lado. Esquerda, direita, esquerda, direita, cadência quase perfeita. Quase. Isso. Quase, nada mais.
Sei agora mais que nunca que o passo é só meu e que a paz está no fim da linha, no fim do doce embalo da velha carruagem sem rumo. Ir, ir, ir...
Wednesday, 6 February 2008
É bom saber que os há
pois eu não tive a noção do seu fim
pelo que eu já tentei
eu não vou vê-lo em mim
se eu não tive a noção de ver nascer um homem
e ao que eu vejo
tudo foi para ti
uma estúpida canção que só eu ouvi
e eu fiquei com tanto para dar
e agora
não vais achar nada bem
que eu pague a conta em raiva
e pudesse eu pagar de outra forma
ouvi dizer que o mundo acaba amanhã
e eu tinha tantos planos pra depois
fui eu quem virou as páginas
na pressa de chegar até nós
sem tirar das palavras seu cruel sentido
sobre a razão estar cega
resta-me apenas uma razão
um dia vais ser tu
e um homem como tu
como eu não fui
um dia vou-te ouvir dizer
e pudesse eu pagar de outra forma
sei que um dia vais dizer
e pudesse eu pagar de outra forma
a cidade está deserta
e alguém escreveu o teu nome em toda a parte
nos carros, nas casas, nas pontes, nas ruas
em todo o lado essa palavra
ora amarga, ora doce
repetida ao expoente da loucura
pra nos lembrar que o amor é uma doença
quando nele julgamos ver a nossa cura
e com a dimensão da dor
legitimar o fim
eu dei
mas foi para mostrar
não havendo amor de volta
nada impede a fonte de secar
mas tanto pior
e quem sou eu para te ensinar agora
a ver o lado claro de um dia mau
eu sei
a tua vida foi
marcada pela dor de não saber aonde dói
mas vê bem
não houve à luz do dia
quem não tenha provado
o travo amargo da melancolia
e então rapaz então porquê a raiva
se a culpa não é minha
serão efeitos secundários da poesia
mas para quê gastar o meu tempo
a ver se aperto a tua mão
eu tenho andado a pensar em nós
já que os teus pés não descolam do chão
dizes que eu dou só por gostar
pois vou dar-te a provar
o travo amargo da solidão
é só mais um dia mau
para dar
para estar
para ter
para ir
pra ouvir
pra sorrir e entrar
para rir
pra voltar a tentar
pra sentir e mudar
pra voltar a cair
para me levantar
para nunca mais tentar mentir
pra crescer
para amar
para ser o lugar
pra viver e gostar de gostar de viver
pra fugir
pra mostrar
pra dizer
pra ter paz
pra dormir
pra fingir acordar
para ser derramar
para nunca mais tentar mentir
em negra carga a par do fim
vibrou no vidro até se ouvir
eu abro a dor de ser quem sou
de tudo amar
vai pra casa
esquece a rua
que eu vi
hoje o tempo vai mudar
eu já trinquei a maçã
deixei-me olhar a fundo
mas eu acordo a cada dia
eu abro a dor de ser quem sou
de tudo amar
vai pra casa
esquece a rua
que eu vi
hoje o tempo vai mudar
estranha forma de acordar
que é estar pronto pra dormir
abre a porta e vê se o mundo ainda é teu
cedo vais-nos dar razão
como a vida nos convém
cedo irá arder nas minhas mãos
não vejo um homem para trás
não vejo medo para trás
não vejo portas para trás
meu mal é ver que eu vou bem
todo o mal e todo o bem
cedo voltará nós
inocente e trágica lição
se uma vida não chegar
hei-de ter cem vidas mais
quantas mais ditar o coração
não vejo estrada para trás
não vejo medo para trás
não há mais nada para trás
estranha forma de acordar
que é estar pronto pra dormir
abre a porta e vê se o mundo ainda é teu
cedo vai-nos dar razão
como a vida nos convém
cedo irá arder nas tuas mãos
meu mal é ver que eu vou bem
vê como vibra para ti
vai ditar o rumo da razão
vê como olham para trás
vê como aguardam tua vez
do prisma inverso da ascenção
ascender
e acordei na minha cruz
a mesma carne
a mesma luz
um nada após a mortificação
e o melhor é que aprendi
a minha luta por aqui
voltámos a pisar o chão
dá-me a tua mão
e vamos ser alguém
a vida é feita para nós
acordar é bom
mais fácil é dormir
mas nem dormindo estamos sós
eu fui tão mau para mim
eu fui tão pouco para nós
bem que o meu pai quase me avisou
eu nasci sem entender
a forma certa de viver
até que a vida me ensinou
aprender
o que eu quis mostrar ao mundo
era tão forte e tão profundo
eu quase me afoguei na emoção
visitou-me um velho amigo
outrora solto em meu umbigo
eu dei-lhe abrigo na prisão
só que eu já não sei
mudou a força da razão
e não fui eu que a mudei
a vida tem um peso para nós
e pesa quando estamos sós
dá-me a tua mão
e vamos ser alguém
a vida é feita para nós
acordar é bom
mais fácil é dormir
mas nem dormindo estamos sós
Oh mãe!
como foi para mim
leva qualquer eu a meu dia
da-me paz eu só quero estar bem
foi só mais um quarto uma cama
no meu sonho era tudo o que eu queria
quando alguém deixar de viver aqui
espera que ao voltar seja para ti
nada vai ser facil
nunca foi
quando alguém deixar de te dar amor
pensa que ha quem viva do teu calor
hoje é só um dia
e vai voltar amanha
e nao foi assim que o tempo nos fez
e fez assim com todos nós
e nao foi assim que a razao nos amou
e fez assim com todos nós
sao coisas
sao só coisas
se uma voz nos diz que é viver em vão
pra que raio fiz eu esta cancão
e se o fim é certo
eu quero estar ca amanhã
e nao foi assim que o tempo nos fez
e fez assim com todos nós
e nao foi assim que a razao nos amou
e fez assim com todos nós
sao coisas
sao só coisas
eu estou bem
quase tao bem
vê como é bom voltar a dizer
eu estou bem
quase tao bem
vê como é bom voltar a dizer
eu estou quase a viver
alguém entrou
só no acender da luz
vê que eu não estou
eu jurei
quando eu voltar
ninguém mais vai entrar
para sempre eu vou esperar por ti
pára de olhar para mim
deixa-me ser alguém
tão cedo não vais ver ninguém
ao ver meu quarto aberto
alguém pensou
foi para mim que alguém assim o deixou
para quê mentir
se eu bem sei
que não há ninguém igual
para sempre eu vou esperar por ti
pára de olhar para mim
deixa-me ser alguém
tão cedo não vais ver ninguém
guardar cá dentro amor
não nos faz nada bem
quando cá fora o ódio quer entrar
fui morar pra paixão
pois eu sei
que não há melhor lugar
para sempre eu vou esperar por ti
pára de olhar para mim
deixa-me ser alguém
tão cedo não vais ver ninguém
eu só quero dar-te alguém melhor
eu vi que eu sou capaz
eu posso até sentir
isso vai fazer-nos tão bem
não nos deixei mentir
e agora tanto faz
vou dar o mundo a quem
e aparece assim
acendeu-se a luz
estão vivos outra vez
amar é bom se houver
no fundo de um de nós
alguma solidão
eu calo a minha voz
é tão bom ser mulher
descobrir quais são
e aparece assim
acendeu-se a luz
estão vivos outra vez
se é tão bom de ouvir
vivo para ti
até o nosso amor morrer
se eu não for capaz
eu espero vê-lo em ti
eis como me ajudar
sentir não é mostrar
e dar não é sentir
é morrer em paz
e aparece assim
acendeu-se a luz
estão vivos outra vez
se é tão bom de ouvir
vivo para ti
até o nosso amor morrer
mas deixa o nosso amor morrer
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo
sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar que há um fim
diz sem querer poupar meu corpo
eu ja nao sei quem te abraçou
diz que eu não senti teu corpo sobre o meu
quando eu cair
eu espero ao menos que olhes para trás
diz que não te afastas de algo que é também teu
não vai haver um novo amor
tão capaz e tão maior
para mim será melhor assim
vê como eu quero
e vou tentar
sem matar o nosso amor
não achar que o mundo é feito para nós
foi como entrar
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo
sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar que há um fim
dá notícias do fundo
como passam teus dias
diz se a razão nos chega para viver
se amor nos serve
amor não dá de comer
fico melhor assim
em todo o caso vai pensando em mim
se tocámos em alguma coisa
se me chamas por algum motivo
se nos podem ver
se nos podem tocar
meu desejo
é morrer na paz do teu beijo
sem futuro
é lutar por um beijo mais puro
eu vou estar sempre aqui
nada vai mudar
sinto-te arder no meu fundo
eu vou estar sempre aqui
nada vai mudar
sinto-te entrar no meu mundo
fundo
nós tocámos em algumas coisas
nós seguimos por alguns sentidos
se nos podem ver
não nos podem tocar
meu desejo
é morrer na paz do teu beijo
sem futuro
é lutar por um beijo mais puro
se o que quero é navegar
pelo tamanho das ondas
conto não voltar
parto rumo à primavera
que em meu fundo se escondeu
esqueço tudo do que sou capaz
hoje o mar sou eu
esperam-me ondas que presistem
nunca param de bater
esperam-me homens que desistem
antes de morrer
por querer mais que a vida
sou a sombra do que sou
e ao fim não toquei em nada
do que em mim tocou
eu vi
mas não agarrei
parto rumo à maravilha
rumo à dor que houver pra vir
se eu encontrar uma ilha
paro pra sentir
e dar sentido à viagem
pra sentir que eu sou capaz
se o meu peito diz coragem
volto a partir em paz
eu vi
mas não agarrei
chegámos ao fim da canção
e paro um pouco pra dormir
é tarde pra voltarmos atrás
já nem há motivo algum para rir
é como ouvir alguém dizer
vê nessa procura
uma razão
pra virar a dor para dentro
que é virar o amor para dentro
falo de um amar para dentro
que é virar a dor para dentro
eu vou dizer até me ouvir
a dor chegou para ficar
eu vou parar quando eu sentir
não haver motivo algum pra negar
é como ouvir alguém dizer
vê nessa procura
uma razão
pra virar a dor para dentro
que é virar o amor para dentro
falo de um amar para dentro
que é virar a dor para dentro
chegámos ao fim da canção
e paro um pouco pra dormir
Ornatos Violeta, "O Monstro Precisa de Amigos"