Sunday 30 September 2007

2 vs 7

Escorre por entre os dedos, esse malvado chamado tempo, mata, moi, tira, dá. Tudo ao mesmo tempo, quase na mesma hora. Gostava de saber onde mora, sei que é o vizinho, mas às vezes é ainda mais dificil encontrar o espaço...

A cidade está cheia de esquinas, encontros e desencontros à beira de duas paredes que se tocam. Parecem diferentes a diferentes horas, em diferentes dias. Gosto de passar por elas e ler as histórias que por lá estão escritas. Cimento, tijolos e tinta, só isso, dirão alguns. Mais, muito mais, acho eu. Encontros de quem se vê com olhos de ver poucas vezes num ano, sem sequer saber porque são tão poucas essas noites, talvez só assim seja bom o reencontro. Talvez só assim saiba bem ouvir o riso aparvalhado.

O aparvalhamento das pessoas com quem me dou. É assim e não sei porquê. É por isso que gosto de sorrir contigo, é por isso que gosto de rir contigo, foi porque me habituei a rir todos os dias e a perceber que não é por mostrar uma cara fechada que a vida vai melhorar. Lembro-me da história que te contei do gajo das sandes, não sei se ainda te lembras...

O que me faz sentir bem é olhar para o lado e ver duas pessoas separadas do tempo, do meu tempo, por alguns anos e perceber que tirada a primeira camada se mostram tão iguais. Falta uma terceira, é verdade, também ela igual. Os personagens que vão fazendo a minha vida...

Gostava por vezes de ser como outros, de me contentar com pouco, de não pensar tanto, de aceitar tudo à primeira. Gostava de tudo isto nos dias em que rebolo na cama de um lado para o outro a pensar se o blackout que não me diz respeito já acabou. Gostava de ser assim quando me dão a mão que logo largo por ser só um pouco mais pequena que a minha, gostava de ser assim nestes dias de chuva em que me fecho em casa quendo esses tais outros se vão entretendo a dissecar o alegado penalty de ontem... Gostava mas não sou. Pode alguém ser quem não é? Já tentei ser outra coisa e não deu resultado.

Segue a noite num estado de não saber grande coisa, cordas soltas em forma de neurónios que não se atam. Vazio, oco, porque é assim que tenho andado nos últimos tempos, acho que feliz por já não saber pensar, acho que feliz por saber que há sorrisos, acho que feliz por olhar para o fundo do copo e ver o mesmo som. Ver o som! O tal som da gargalhada perdida no tempo, gargalhadas de hora a hora, faltava-nos o ar de rir tanto. O som das lágrimas a cair no chão naquele dia em que uma espécie de boneco de cera nos fez ver que somos pequeninos à vontade da vida. "Não choras, tu?", "Não consigo!", "Assim é pior, guardar não faz bem.", sei hoje que não e choro agora, alguns anos depois, choro por momentos, não por perdas ou coisas, mas choro.

O som de um passado não muito distante que é quase igual, quase igual ao que foi. Quase, sempre o quase. Não! Sim, eu sei. Adeus. Até já. Assim, simples demais para poder ser complicado. O click, mais uma vez o click, o mesmo que me há-de levar embora um dia quando a decisão não for nem de longe nem de perto a mais acertada, o click que me fez ligar, que te fez voltar atrás. O egoista teve o que queria naquela noite, queria um abraço apertado.

Anos, meses e dias, juntos em poucas horas. Eu vi, só eu vi e foi bom de se ouvir. Foi bom ver que os anos só passam por alguns e não por todos, senti-me bem, muito bem quando os olhos castanhos que ficam cor de rosa de verão me disseram que os olhos laranja são bonitos. Fico feliz por saber que se podiam juntar e escrever uma história de olhares coloridos. Faltaram só uns olhos azuis naquela noite para dar mais umas páginas ao livro.

A estação

A vida e os comboios, ou se calhar os comboios que fazem a vida. Uma enorme estação é o que é. Gente boa e má, de todas as cores e feitios, gordos, magros, altos e baixos. Cada um à espera do seu comboio. Cada um à espera da viagem que o há-de levar dali para algures, seja lá isso onde e o que for.

Olhos ensonados de manhã, corpos suados pela tarde, a tristeza no olhar de alguns e a alegria na voz de outros. Depois há também a apatia de muitos que já não esperam o comboio, mas somente um monte de latas.

Mas um comboio nunca há-de ser para mim um monte de latas. Já perdi alguns por pensar apanhar outros, espero agora pelo próximo que me leve até onde quero ir.