Do quarto andar o pior que acontece ao gato é partir a pata da frente ou fender o palato e expirrar um pouco de sangue ao bater com o queixo no chão. Mas, por exemplo, se um bichano cair do primeiro andar ele poderá, incrivelmente, os veterinários confirmam-no, partir a espinha e morrer ou ficar paralítico, o desgraçado, por não ter tempo de se virar por inteiro, o que é estranho, ou por fazer mal as contas e dar meia volta a mais. No entanto, do segundo andar e do quarto andar não lhes acontece nada. O intrigante fenómeno de uma queda mais alta ser menos perigosa levou o Raúl da Casa Azul a postular a seguinte hipótese:
- E se a queda segura de um gato for uma constante de andares de número par?
...- E se a queda segura de um gato for uma constante de andares de número par?
O certo é que um dia o Cubano, farto dos gatos, alterou o seu campo de estudos para os cães. Deixou cair um cãozinho de patas para o ar, do quarto andar para o pátio, e o rafeiro não se virou e morreu.
- Conclusão, cão não é gato.
O animal fez um barulho seco e almofadado, parou de ganir. O medo do cãozinho encheu o ar, nos dois segundos e meio da queda."
Rui Cardoso Martins, "E se eu gostasse muito de morrer"
2 comments:
Encontro erros nesse texto :) e.... cubano idiota?
Este texto é delicioso.
Este e o da lei de Murphy sobre a torrada com manteiga preso às costas do gato ;)
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