O cinza de cima conta as núvens e um outro mostra o céu. Mais azul, um, mais negro, o outro. À frente, o cinzento das grades que encerram nada, e debaixo, a cor da cadeira que segura o corpo também não muda. Cinzento o rio que corre ao fundo e até o verde das árvores parece ter mudado de cor.
O chão sempre foi uma mistura de preto e branco e reparando bem, nem as telhas da casa velha são laranja como as restantes. Na linha passa o comboio, invariavelmente cinzento, agora limpo que foi dos graffitis arco-iris.
Ao lado, as caras cinzentas, falam do cinzentismo da vida e tudo parece ter sido pintado por um inconsciente qualquer. Talvez um daltónico a querer vingança.
Depois fecho os olhos e vejo as mil e uma cores dos peixes que teimam em saltar da àgua para os barcos que não há ao som de um qualquer louco que grita "PEIXE, PEIXE, PEIXE!", embalado por marés de campainhas. Saltam os peixes e chovem sapos. O cinzento deixa de fazer sentido com os olhos fechados, e ao voltar a abri-los a cidade é toda luzes.
As núvens foram empurradas pelo sol, o rasto laranja pintou o céu e o pescador terá um grande jantar ao chegar a casa.